03 de dezembro de 2015
Proibido estacionar.
Tinha esse portão verde, enorme, com a placa, não menos enorme, “não estacione dia ou noite”. O portão, vejam bem, ficava em uma rua com meio fio amarelo – amarelo is the new black – e, notem, do lado esquerdo do portão, ali parado, como quem não quer nada, tinha esse poste numa vibe ostentação da cttu, com a placa de proibido estacionar.
Então , vamos rever os fatos, caso a questão caia na próxima prova do Enem ou do DETRAN:
Portão + placa de proibido estacionar + meio fio amarelo + não estacione dia e noite = ?
É uma pergunta difícil, calma, não precisa responder assim, de supetão. Pode fazer aí umas contas de cabeça e até usar calculadora, se for o caso.
Você, que gosta de dar palpite no facebook e expressar sua opinião sobre tudo, diz aí, o que você faria caso tivesse uma caminhonete branca importada e quisesse estacionar justamente nesta rua em frente a este tão simpático portão? Ajeitaria seus óculos rayban pelo retrovisor, jogaria um “foda-se sociedade chata cheia de regras” , para combinar com sua atitude “tenho um carro bom, portanto faço o que quiser” e, chocando a audiência, estacionaria na FRENTE do portão.
Claro que, como todo bom filme de Hollywood, essa história tem um plot twist. A trilha vai da orquestra para o soundtrack de terror e, deste mesmo portão, sai Téta Barbosa (gosto de falar de mim em terceira pessoa ) com o espírito de Carry a estranha, no corpo, preparada para protagonizar um episódio de Kill Bill e atirar em quem se mover.
Com pensamentos inspirados em O Iluminado, cenas de cortar os pneus e arranhar o carro passaram, como numa projeção de slides, pela minha cabeça distorcida pela indignação. Mas será possível que a Zica, os terroristas, a lama em Mariana e a microcefalia não são suficientes para terminar este Dezembro de grandes espetáculos. Não?
Pois armei meu circo e, como cachorro que faz xixi no poste para marcar o território (me mudei pra cá faz 10 dias), peguei batom vermelho para escrever poesias no carro deste exemplar cidadão recifense. Achei que o MAC Ruby seria a cor mais indicada para realçar o branco recém lavado e polido do carro. Comecei pela frase de Cecília Meireles que diz “não se estaciona em frente a portão, neste caralho”, seguidas pela filosofia de Nietzsche “se parar aqui de novo, eu vou arranhar seu carro” e finalizei com a romântica poesia de Manoel de Barros “é proibido estacionar nesta rua, seu idiota”.
Lá de longe, o senhor de cabelos brancos, óculos rayban e atitude BMW perguntou: quem é essa doida? Não ouvi ele pronunciar as palavras, mas tenho certeza de que foi isso que ele pensou. No que eu respondi: a mesma louca que segue regras, obedece a lei, respeita as pessoas e paga os impostos.
Considerando que o dono do carro ignora leis e acha que pode manipular as pessoas sem respeitar o próximo, posso apostar que ele se chama Eduardo e atende pelo sobrenome de Cunha.
Não sei em Brasília, mas aqui, na minha rua, #nãovaitergolpe
*Informação adicional: o dono do carro levou uns gritos meus (sorte dele que eu não bato em pessoas de óculos) e jurou que nunca mais estacionaria no meu portão. Os flanelinhas da rua observaram o barraco e posso apostar que não terei mais problemas deste gênero. A notícia “a dona da casa é louca” vai se espalhar pelo Recife como se dissessem “não é legal estacionar em frente a portões”.
Muito bem!
Pois muito bem, Teta. Na minha casa a filosofia não é muito inversa.
Como moro em apartamento e no condomínio onde moro, a grande maioria, são pessoas mais velhas, o silêncio impera no local.
Ou pelo menos era para imperar porque vez ou outra ele é cortado pelos gritos da louca que aqui lhe escreve.
Seja porque meu gato, Bartolomeu, acha de SEMPRE fazer xixi fora da caixa, ou seja porque meu marido achou de comprar o ingrediente que pedi errado (o que sempre acontece). Eu grito loucamente e por conta disto os meus vizinhos não se metem a besta comigo. Sou do nordeste (Bahia), temos o costume de falar alto, de gesticular, de ser quente mesmo. Aqui no sul (Florianópolis) o povo é mais contido e por isso o “meu jeitinho” faz com que eles passem bem longe da minha porta, para fazer qualquer reclamação.
Num destes meus acessos de gritos e loucura um vizinho, lá debaixo gritou: para de gritar sua louca!
Quando coloquei a cara pra fora da janela, o machão já tinha sumido. Disse em voz alta, na janela: é bom mesmo que suma.
O meu marido, um gaúcho pacato, de fala baixa e que paga (literalmente) pra não se incomodar, morre. Me chama de vileira (favelada) pra baixo. E por fim diz: claro que ninguém vem aqui, quem vai se meter com louco?
No final, estamos na vantagem
(me divirto lendo você)
Amo a forma como você consegue mostrar sua irreverência e personalidade através das palavras. Virei fã! Nunca pare de escrever, de se encantar, de se indignar com o que não acha correto. Sim, você é phodda, com PH e dois D’s.
Ai Regina, o que eu mais ouço na vida: ” fala baixo”. E quanto mais falam, mais eu grito!
Eita Clara, brigaduuuu (momento Fábio Junior).