FaceBook

Não me adaptei a este novo estilo de post do facebook: colorido com letras gigantes, fazendo cosplay de outdoor gourmet.

É como se estivessem gritando frases que não necessariamente quero ouvir.

Acho a lógica bem simples: se seu texto/frase vier com alface, picles, gergelim e aquele molho especial que a gente chama conteúdo, naturalmente as pessoas vão ler, dar like e, se tudo der certo, até compartilhar (sonho do todo facebook hero) mesmo que a letra tenha corpo 8. Porque, “the answer, my friend, is blowing in the wind”, não tá gritando com o megafone de letras brancas em fundo degradê lilás.

Como nem tenho equilíbrio emocional para falar do degradê, esse post fica assim mesmo: combo de letras pequenas pretas no fundo branco. Não vou acrescentar fritas nem aumentar o refri porque na maioria das vezes, menos é mais.
No fim, tudo me parece muita eloquência para pouca prova.
Sou a moça do sac no quesito “não desligue, sua opinião é muito importante para nós” mas, prefiro comprar sua opinião na planta, não quero visitar o decorado.

Greve Geral

Confirmado: pratos sujos não entraram em greve.

Deram expediente normal em suas respectivas pias.

Uma lástima.

Unicórnios Zoombis

Sem predador natural, o unicórnio se reproduziu de forma assustadora e ameaça o ecossistema regional.

Alguns animais nativos do Carnaval já sofrem com o desequilíbrio ambiental. Entre eles a espécie “toda a irreverência de folião pernambucano” foi quase extinta nesta última festa de momo dando espaço para o espírito de rebanho dos animais místicos.

No princípio, ambientalistas não perceberam a sorrateira intromissão do cavalo de um chifre e se perguntavam somente : “porque geral tá usando diadema de casquinho de sorvete na cabeça?”.
Quando perceberam a gravidade da invasão, o animal pseudo-fofo que vomita arco-íris já tinha colocado em risco toda a criatividade característica da festa pagã.

O Governador do Estado, em pronunciamento oficial, afirmou que a presença invasiva do unicórnio era desconfortável, assim como são desconfortáveis cueca na bunda e RioDoce/CDU ao meio-dia. O Prefeito, no entanto, não fez anuncio solene pois estava ocupado tentando transformar pinto em Galo. Este último inclusive, o galo e não o Prefeito, está em observação na UTI. Suspeita-se que sua postura mofina e depenada se deu pelo fato de que o Galo queria mesmo era sair fantasiado de unicórnio e não de Romero Brito.

Ambientalistas alertam que temos uma ano, antes do próximo Carnaval, para caçar e acabar, não só com unicórnios, mas com qualquer tentativa fashionista de dizimar nossa criatividade nos transformando em another brick in the wall.

obs – ainda é cedo para afirmar, mas teorias indicam que unicórnios foram mandados por Trump para construírem um muro de glitter.

#carnaval #unicórnios #festa #fantasia

O turbante da discórdia

Me falta ânimo quando o racismo é combatido com mais racismo, só que ao contrario.

Dito isto, acho inválido o argumento da moça negra quando prega que moças brancas não devem usar turbante porque o mesmo é símbolo da luta negra e não modinha de it girl.

Vou deixar passar minha quase involuntária ironia, e nem vou alegar que o turbante, este tão inocente acessório da discórdia, veio mesmo foi do Oriente, antes do Islamismo. Vejam vocês, um simples pedaço de pano, usado na Índia, Paquistão, Afeganistão e no Oriente Médio, no banco dos réus pelo crime de apropriação cultural por parte das brancas.
Seguindo este raciocínio e considerando a hipótese de que o turbante tenha vindo da África, sem escalas, significa que turbante é somente coisa de negro. Indo além, seria então triste e lógico considerar errado negros usarem jeans, já que este tão querido item do armário foi criado por franceses brancos e popularizado por americanos mais brancos ainda, simbolizando a luta e resistência dos mineradores da Califórnia.

Mas, veja bem, em que encruzilhada fashion/cultural nos encontramos; imaginava eu que já estava mais do que na hora de juntar forças e não separá-las. Porque, no fim do dia, Martin Luther King disse I Have a Dream e não Independência ou Morte. Portanto, acho que agora, uma hora dessas, separar coisa de negro e coisa de branco é o mesmo que fazer um moonwalk na história de luta da união e coexistência da harmonia entre brancos, negros, amarelos, coloridos e os verdes de bolinha azul.

Até entendo essa resposta rancorosa de uma raça negra que sofre, até hoje, da elite brasileira branca um preconceito nojento e disfarçado que finge que a escravidão acabou, mas compra farda para a empregada negra.

“Overcome the devils with a thing called love” seria o recado do rastafári, Bob Marley.

Abre parênteses; negro usar dreadlocks é estar se apropriando culturalmente dos rastafáris? Branco pode? A Jamaica fica no Caribe, perto de Cuba, mas latinos da America do Sul podem? Fecha parênteses de forma confusa e fragmentada, porque até a gramática não sabe mais se este argumento de apropriação cultural é uma conjunção aditiva ou adversativa.

Nota – sou branca e esta não é uma tentativa fuleira de problematizar meus privilégios. Apenas de aceitá-los e me sentir envergonhada por eles. Que o turbante seja um elo e não uma lacuna.

#ApropriaçãoCultural #Turbante 

Depois

O depois não existe.

Deveria, porque a ideia é até boa.

Mas, assim como uma durex que jamais perde a ponta, o depois simplesmente não existe.

É um conceito. Uma teoria. Um plano que pode dar certo em 3% dos casos e errado nos outros 43.251,88 %.

O que existe é um agora seguido de outro agora. Só isso mesmo, portanto.