A culpa não é do glúten, não é da lactose, não é do bacon.
O que fode o ser humano é a expectativa.
Pode comer fritura se diminuir as doses diárias de ansiedade. Porque expectativa, minha cara colega de trabalho, é a ansiedade prematura.
Neurose? Visite o decorado. Temos amostra grátis de vários distúrbios.
Em momentos aleatórios imagino que se a vida fosse um livro, ia ser mais fácil. Porque a orelha do livro, aquele spoil resumido do que vai acontecer, corta a ansiedade pela raiz.
Estou lendo O Velho e o Mar de Hemingway e, pela orelha, já sei que vai dar merda. O velho não vai conseguir levar aquele peixe até a terra nem fudendo, então isso tem me poupado horas de expectativa. Agora imagina se a vida vem com orelha? Um prefácio, de nada, pra ajudar na navegação dos acontecimentos. Ou um waze, que seja. Uma Siri que praticasse a sinceridade.
Mas ficar no escuro, brincando de manequim challange sem saber o que vai acontecer no final da temporada do seu emprego ou do seu crush é uma sacanagem sem precedentes. Uma vida de inconsistências, onde o dia de hoje passa em modo avião porque você está preocupado demais com o dia de amanhã.
Meu propósito atual é ter coragem de olhar na cara da expectativa e dizer:
- Miga, segura aqui minha bebida que eu volto rapidinho.
Quando ela desse conta de que eu fugi de Alcatraz, eu já estaria fazendo yoga no Nepal. E comendo bacon.