40+

Na situação mar aberto, que é ter mais de 40, o único consolo era o livro “Mulheres que correm com os lobos” e a ilusão, quase demente, de que depois dessa idade seríamos livres e selvagens.

Pois com 43, deixa eu te dizer, na real, o que eu descobri sobre essa fábula urbana: se for correr com os lobos, use protetor solar.

Porque é cada mancha de pele que aparece com essa idade que táqueopariu. A verdade é que mulheres de 40 não correm com os lobos, elas correm com os dermatologistas.

#idadedaloba #chupanovinha#mulherde40

Faz sentido.

Nem Jesus, filho de você sabe quem, chegou aos 40.

Ele deve ter pensado,

- Esses 40 vão ser uma barra….

Aí, agilizou o processo milagres/ceia/crucificação para subir aos céus antes mesmo dos 35. Porque, se você pensar direitinho, Jesus Christ, o superstar, não iria querer ser lembrado careca e com uma mancha senil no rosto.

Por isso mesmo, esse selfie que você tem do filho do Todo Poderoso aí na sua igreja,tem cabelos longos e zero% de rugas trans.

De besta, Jesus só tem mesmo os seguidores.

Para evitar a fadiga cristã, vou pular do Antigo Testamento direto para 2013. Mais precisamente, a última quinzena do derradeiro mês do ano que acaba de acabar: 27 de Dezembro de 2013.

Eu e meus 40 anos.

Meus e de mais ninguém.

- Menina, mas você está ótima. Nem parece que tem 40. Cara de novinha.

O “elogio” repetido 40 X 40 vezes neste último mês encheu minha timeline, meus ouvidos e as entrelinhas da minha vida social e virtual.

Ser novinha parece-me, é qualidade. Virtude até.

É como se eu tivesse passado cinco anos estudando para ser novinha. Como se, depois de estagiar em uma empresa renomada, passado o período de labuta, fosse finalmente promovida ao concorrido cargo de “você tem cara de 28”.  Como se, depois de tanto esforço, físico ou intelectual, me fosse concedido a honra de “nem parece a idade que tem”.

Por mais que você, caro amigo/parente/conhecido, tenha tido as melhores das intenções, “você tem cara de ser mais nova” não é elogio. Pelo menos não deveria.

É bullying, eu diria mais.

A cara de pirraia me foi concedida por uma conspiração de DNA do qual não posso levar glória nem culpa. Esta coroa de louros não me pertence.

Ter 40 anos e parecer ter 40, (peço licença aos leitores para usar um parágrafo inteiro com citações clichês) com toda maturidade, auto-estima, confiança, experiência que a idade lhe convém, deveria ser o máximo. Arretado, traduzindo para o dialeto local.

Abaixo a ditadura dos estereótipos convenientes: magras (produtos diet e light agradecem a preferência), de cabelos lisos (um oferecimento da escova rotating air, que seca, alisa e modela ao mesmo tempo) e novinhas (cuja participação nesta crônica foi gentilmente cedida por cremes e intervenções cirúrgicas).

- Perca sua vez e volte dez casas.

- Não, obrigada.

Queria ter simplesmente ouvido:

- 40? É, faz sentido.

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eu

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Onde foram parar, afinal, as mulheres que correm com os lobos (neste karalho)?


 

70 dias.

Não meses, nem anos, mas dias.
Daqui 70 dias, serei uma jovem senhora de 40 anos. Quer dizer, nem tão jovem, nem tão senhora, mas definitivamente com 40 anos.
Não gosto da ideia de tirar a data de nascimento do facebook (sim, as pessoas fazem as contas), muito menos de fingir ter 36, só porque o 6 parece um 9 de cabeça pra baixo.
- Mas menina, tu parece tão mais nova.
Pouco, pouquíssimo importa o que eu pareço. Na vida real, todos os meus poros sabem que vou fazer 40 anos, cada canto do meu corpo sabe que os 40 estão ali, me esperando na esquina. Cada fio de cabelo, escondido durante anos atrás do Casting Castanho Escuro, sabe que, enfim, lá vêm os 40.
40 tons de destrambelhamento.
Porque, veja, o problema não é a idade, nem a velhice, nem a não-juventude. O problema é que aos 20 me imaginei chegando à idade da loba com a elegância de Audrey Hepburn, o dinheiro de Gisele Bundchen e a inteligência de Cecília Meireles.
Tudo que consegui foi um apartamento e 30 anos de prestação para pagar.
Então, adoraria ficar aqui jogando conversa fora, mas preciso correr. Só tenho 70 dias para plantar uma árvore, escrever um livro, jogar paintball, conhecer Paris, ir num show do Pink Floyd, cortar uma franja igual a Audrey, ler mais Cecíla e ignorar as Giseles.
* Texto publicado na minha coluna mensal no Social1 do Jornal do Commercio.