Cancelamento.

Estou decidida, este ano o aniversário será cancelado.

Por cancelamento do aniversário não confunda com o cancelamento da festa de aniversário. Esta, a pobre, já foi abolida desde 1978,  quando, mesmo com coxinha, bolo e 348 brigadeiros, apenas Renata, do 204 e Lulão, do 301, apareceram. Isso, que fique anotado, só porque moravam no mesmo prédio e não tinham viajado – uma devido a catapora, a outra por conta da recuperação da escola.

Refeita da repetida sequência de, ano após ano, ver o “vai ser apenas um bolinho” se transformar em “foi apenas um bolinho”, a desistência de fazer festa foi, não só necessária, mas a irrefutável prova de que ter nascido entre natal e réveillon é uma merda mesmo. A renuncia da solenidade comemorativa que marca a entrada de um novo ano foi aceita com certo conformismo disfarçado de desapego. Dia 27 se tornou , então, o dia do #nãovaiterbolo #porquetátodomundoviajando #nestaporra. É o ônus de ter nascido depois de Jesus e antes do ano novo. O bônus, bem, este ainda não descobri qual é.

Desfeita a provável confusão entre o cancelamento da festa e do aniversário em si, sigamos com com o real motivo desta suspensão, neste simpático ano de 2015: fiz umas contas e, noves fora nada, cheguei a conclusão que estou muito bem com 41 anos e, não vendo a real necessidade de fazer 42, fechei a venda e resolvi pular este aniversário. Examinando cuidadosamente, percebi que minha decisão não terá consequências desastrosas. O máximo que poderá acontecer é, se você durante suas férias em Carneiros ou Madagascar (isso no caso de ter sinal de wifi ), lembrar de conectar o Face para mandar uma mensagem de “estou longe mas lembrei de você”, vai receber de volta uma resposta automática desta rede social avisando “status do evento: cancelado. Motivo: Téta pretende ficar com 41 anos, pelos próximos 5 aniversários”.

A confusão causada pela falta de informação pode pegar o leitor desprevenido   imaginando que “Téta não quer ficar velha”, o que posso garantir, não é o caso. Estou muito melhor agora do que com 20 anos, com ou sem brigadeiros, e tenho certeza que aos 45, 48 ou 52 vou estar “vai mais pra lá que eu sou foda”. O que se dá, no entanto, é que mais um ano significa mais experiência e amadurecimento e, dos dois, já tenho em estoque.

Tanto uma, como a outra,  experiência e amadurecimento, só vêm mesmo com uma boa rasteira da vida. Destas já tive tantas que perdi as contas: não consegui fazer permanente no meu cabelo em 1993, levei pau no vestibular de publicidade, não fui selecionada para a equipe estadual de GRD em 85, levei tantos pés na bunda que perdi a conta, quebrei o pé na primeira vez que joguei futebol, engravidei aos 23, virei mãe solteira aos 24 (só aí já amadureci 10 anos em 10 meses), casei/separei, comprei uma casa/ vendi a casa,  assisti o 7X1 da Alemanha, e por aí seguem incontáveis lições que me fizeram amadurecer mais do que manga rosa em janeiro. Seguindo a teoria de que o que não nos mata, nos emputece , já tive experiências ruins o suficiente para contabilizar aí, por baixo, uns 54 anos de amadurecimento forçado, que nem banana enrolada em jornal. Assim, chegamos, agora todos juntos, à conclusão de que, um aniversário a mais, um a menos, não faz falta nem no feed do facebook.

Sem falar que 2015 não foi um ano de amadurecimento, foi um ano de felicidade plena e absoluta. Quando se está feliz, se amadurece pouco. A gente fica ali, bestinha, só contemplando o que deu certo e descrente da sorte alcançada. Fiquei assim, parada no tempo com tanto amor e tanta conquista que até esqueci de ficar mais velha.

Portanto, voltaremos a tocar no assunto aniversário, lá por 2018.

Agosto.

Como se a vida não fosse “mãe o forninho caiu” o suficiente, chega Agosto e as saias voam. Desculpe o spoiler, mas em Agosto venta . Muito.
Tem um pouquinho de sol e finalmente os lençóis vão secar e, ufa, você já pode tirar aquele varal medonho da sala de estar.

Agosto, que tem sensação térmica de “o ano tá quase acabando e eu não fiz nada ainda”, é, quem diria, o mês mais feliz da minha vida, invariavelmente. Foi em Agosto, vejam só, que Victor, bem no meio de uma ventania, nasceu.
O vento assanhou meu cabelo e Victor, minha vida.

Vieram, na sequência, contrações, maternidade, mamadeiras, noites sem dormir (que duram até hoje, por motivos bem diferentes) e as festinhas de aniversário no pilotis do prédio quando, justamente por ser Agosto, eu tinha que prender as bolas da decoração com super bonder para não protagonizar uma cena de Up, Altas Aventuras. Na hora do parabéns, umas 6 bolas ainda não tinham estourado e Victor, mesmo antes de andar, já tinha aprendido a desapegar.

Hoje ele faz 19 anos e desapegou tanto que não quer bola, nem festinha, nem pilotis, nem mãe. Principalmente não quer mãe. Mas quem, com 19 anos, quer mãe, anyway?

E, já que a vida é esse Clube da Luta eterno que, quando você não está fabricando sabão, está dando e levando umas lapadas, de graça, bem no meio da cara, é sempre um conforto saber que, entre um round e outro, você tem um filho foda que te coloca no colo e diz “mã, vai ficar tudo bem”. E quando a vida derruba o forninho, é ele quem coloca de volta no lugar.
E Agosto é sempre assim; quase fim de ano, quase verão, quase nada e sempre tudo.
E eu gosto mais de tudo.

Parabéns Victor. Te amo valendo.
*Alerta de texto piegas e sem sentido. O amor é assim mesmo, besta, levemente brega e sem nenhuma explicação.

De olhos bem fechados.

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Renata, mais velha, logo, mais sensata, ia na frente. No bagageiro, eu. Ela tinha quase 10 anos por isso era tão inteligente e, seguindo a hierarquia da maturidade, a ideia veio dela: e se a gente fechar os olhos?

Era perfeito.

As placas “vai dar merda” e “que ideia tosca dukaralho” nem passaram pela minha cabeça. O plano era simplesmente genial: ela, de olhos fechados, eu, de olhos fechados e uma bicicleta sem rumo e sem direção. Iríamos até o fim do mundo assim, sentindo os cabelos ao vento enquanto a #euQueroMinhaCaloi verde com cestinha prateada, cruzava o infinito. Ou pelo menos, o pilotis do prédio.

A quina de um canteiro de concreto com rosas vermelhas se encontrou, em câmera lenta, posso jurar, com meu joelho. Não fosse isso, iríamos pedalar até Nárnia ou até o Shopping, o que chegasse primeiro. Mas sangue, osso aparecendo e um corte de um lado ao outro do meu joelho, nos fizeram desistir da jornada.

Uma cicatriz, a única cicatriz, está aqui para provar a veracidade do acontecimento. Desde então, nunca mais fechei os olhos. Nem no gato mia. Moral da história: fui uma criança pomba-lesa e levei uma vidinha com 0% de perigo trans. Que barra.

Ontem, no meu aniversário de 41 anos, fechei os olhos para apagar as velas e desejei: mais cicatrizes com mais histórias incríveis e memoráveis.

Obrigada Renata (amiga, madrinha de Victor, cumadre) por me ensinar a fechar os olhos e me divertir. Demorei a entender, eu sei.

Obrigada Rodrigo, porque  se eu fechar os olhos e cair, sei que você vai me segurar e ajudar a levantar!

Obrigada mãe e pai, por me ensinarem onde, com quem o quando fechar os olhos.

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Fotos – Rodrigo Lôbo

O amor é brega.

Fiz 18 começos diferentes para esse mesmo texto. Cada um mais cafona que o outro. O amor é cafona, meu caro. Melhor, o amor é kitsch, essa estética barata, vulgar e sentimental. Tão sentimental.

Não fosse assim, este texto teria graça, poesia ou informação. No entanto, tem esse pegajoso afeto que só quem sente sabe.

O amor é um coração feito de lego. E de medos, e surpresas, e ansiedades, e agonias, e risadas, e aprendizado.

O amor é acordar às três da manhã para preparar uma mamadeira, é deixar de ir para balada no sábado, porque no domingo tem zoológico às 7h, é assistir Mogli, o menino lobo, 12 vezes na mesma semana.

O amor se chama Victor e hoje, não sei como, completa 18 anos.

Não sei como mesmo, porque ontem ele tinha cheiro de hipoglós, e falava Rio Pipigaribe, e tinha um chapéu em forma de rato, e usava um pijama com elefantes verdes. Ontem mesmo, posso jurar.

Por isso hoje meu texto não tem filtro. Não tem medo de soar ridículo ou cafona. Hoje eu sou Waldick Soriano cantando “Depois de você mais ninguém”, e ridiculamente orgulhosa do meu filho, me despeço cantando parabéns pra você em ritmo de lambada.

Porque o amor é brega, mas é a melhor coisa do mundo.

Te amo Victor. Feliz aniversário.

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Faz sentido.

Nem Jesus, filho de você sabe quem, chegou aos 40.

Ele deve ter pensado,

- Esses 40 vão ser uma barra….

Aí, agilizou o processo milagres/ceia/crucificação para subir aos céus antes mesmo dos 35. Porque, se você pensar direitinho, Jesus Christ, o superstar, não iria querer ser lembrado careca e com uma mancha senil no rosto.

Por isso mesmo, esse selfie que você tem do filho do Todo Poderoso aí na sua igreja,tem cabelos longos e zero% de rugas trans.

De besta, Jesus só tem mesmo os seguidores.

Para evitar a fadiga cristã, vou pular do Antigo Testamento direto para 2013. Mais precisamente, a última quinzena do derradeiro mês do ano que acaba de acabar: 27 de Dezembro de 2013.

Eu e meus 40 anos.

Meus e de mais ninguém.

- Menina, mas você está ótima. Nem parece que tem 40. Cara de novinha.

O “elogio” repetido 40 X 40 vezes neste último mês encheu minha timeline, meus ouvidos e as entrelinhas da minha vida social e virtual.

Ser novinha parece-me, é qualidade. Virtude até.

É como se eu tivesse passado cinco anos estudando para ser novinha. Como se, depois de estagiar em uma empresa renomada, passado o período de labuta, fosse finalmente promovida ao concorrido cargo de “você tem cara de 28”.  Como se, depois de tanto esforço, físico ou intelectual, me fosse concedido a honra de “nem parece a idade que tem”.

Por mais que você, caro amigo/parente/conhecido, tenha tido as melhores das intenções, “você tem cara de ser mais nova” não é elogio. Pelo menos não deveria.

É bullying, eu diria mais.

A cara de pirraia me foi concedida por uma conspiração de DNA do qual não posso levar glória nem culpa. Esta coroa de louros não me pertence.

Ter 40 anos e parecer ter 40, (peço licença aos leitores para usar um parágrafo inteiro com citações clichês) com toda maturidade, auto-estima, confiança, experiência que a idade lhe convém, deveria ser o máximo. Arretado, traduzindo para o dialeto local.

Abaixo a ditadura dos estereótipos convenientes: magras (produtos diet e light agradecem a preferência), de cabelos lisos (um oferecimento da escova rotating air, que seca, alisa e modela ao mesmo tempo) e novinhas (cuja participação nesta crônica foi gentilmente cedida por cremes e intervenções cirúrgicas).

- Perca sua vez e volte dez casas.

- Não, obrigada.

Queria ter simplesmente ouvido:

- 40? É, faz sentido.

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eu

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eu3

eu4

Onde foram parar, afinal, as mulheres que correm com os lobos (neste karalho)?