Já visitei lugares frios.
Já inclusive morei em lugar frio.
E posso dizer que, ser de Recife e viver num sol de 40 graus na sombra só tem duas vantagens:
-não dormir de meia
-beber cerveja gelada na calçada de um bar.
Fora isso, é uma merda (que me desculpem os canadenses, que acham que morar em lugares tropicais é super legal).
Antes de sair por aí espalhando isso nos panfletos de turismo, vai pegar um ônibus na Avenida Caxangá às 11 da manhã e depois a gente conversa, ok?
Sim, eu moro onde você passa férias!
E afirmo, com conhecimento de causa, que calor não é bom.
Se for calor mais praia mais maresia, piorou. Vamos às equações:
Calor + litoral = umidade.
Sabe o que significa isso, caro amigo gaúcho?
Significa suor, roupa grudenta, pele oleosa, cabelo seboso. Isso nos dias de inverno.
Se for verão, significa câncer de pele (na melhor das hipóteses).
Quando é calor + maresia = bicicleta enferrujada.
Mas, deixemos esse pessimismo de lado e vamos nos concentrar nas vantagens!
Não dormir de meia é, além de mais agradável, importante para sua reputação e vida social/amorosa. Você, cara colega solteira, não vai correr o risco de levar um pretê para sua casa e o rapaz dormir ou fazer você sabe o que, com o acessório da Lupo. Por mais burguês, boyzinho e sem noção que o cidadão seja (é, às vezes a gente tá no desespero e nosso controle de qualidade baixa um pouco), o calor não vai deixar ele ficar de meia.
Uma salva de palmas para o calor!
Calor 1 X 0 Frio.
E, quando eu estava preparada para abrir o placar e dar uma goleada no frio, eis que o querido Prefeito da minha ensolarada cidade, vetou o prazer da vantagem 2: tomar cerveja gelada na calçada de um bar!
Não, ele não proibiu a cerveja. Ele vetou a calçada!
A calçada, minha gente!
Sabe os cafés de Paris que tem mesas bucólicas nas calçadas? Pronto, os franceses ficam contando os dias no calendário das estações para que, com o calorzinho, eles possam sentar elegantemente nas calçadas para saborearem um expresso de marca brasileira!
Então, aqui no Recife nos temos o café, a cerveja, o calor, o bar mas não temos a calçada!
Acho errado carro na calçada, lixo na calçada, gelo baiano na calçada!
Mas venho, através desta, reivindicar meu direito de tomar uma cerveja gelada na calçada!
Não quero me amontoar em bares fechados com ar condicionado e cartão de consumação. Não quero ficar em fila de espera para pedir uma Original. Não quero pagar couvert artístico.
Como cidadã brasileira, tenho direito à mesa de plástico com cerveja gelada no copo americano na calçada do meu bar favorito.
Não acho que seja pedir muito!
Sou como Antônio Prata, “meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins”.
A decisão de Juan De la Costa (que no momento está em Buenos Aires, provavelmente almoçando numa charmosa calçada de algum restaurante argentino), vem disfarçada de expressões como “mobilidade urbana”. Que na real significa “não fiz nada até agora, então tenho que tirar o atraso e proibir tudo que eu puder proibir”.
É a máxima “falem mal, mas falem de mim”.
Enquanto ele está na Argentina, onde a calçada é liberada, a gente fica aqui; sem transporte bom, sem ciclovia, sem salários decentes, sem política pública de qualidade, sem incentivo à cultura e sem calçada!
* posso apostar de Juan dorme de meia!