Feminismo Gourmet

Sou meio feminista, meio machista com borda de catupiry. Acompanha guaraná médio e uma confusão mental sem precedentes.

Acordar um dia e descobrir o tanto de merda dita e atitude machista que eu já tive, não é um passeio no parque.

Pode ser mercúrio retrógrado ou evolução da espécie, mas a verdade é que acompanhar a mudança é difícil mesmo. E um alívio ao mesmo tempo.

Sou vintage, nascida nos anos 70, e naquele tempo ser machista era o prato do dia com poucas opções no cardápio social. Antes de atirar o pau no gato, lembre que na minha adolescência não tinha internet, facebook nem a galega empoderada em cima de um dragão gritando DRACARYS e queimando os machistas todos.

Não quero mover a engrenagem do debate atacando. Sim, homens tem muito o que aprender.

Mulheres também.

Eu principalmente.

Já fui bobinha o suficiente para acreditar que mulheres com muito decote tem pouco motivo para reclamar de assédio. Achava super ok o príncipe beijar a Bela Adormecida, mesmo sem ela ter consentido o beijo.

Esse é o retrato da minha geração; feminista o suficiente para saber que iríamos trabalhar e não ficar em casa cuidando das crianças mas, machistas o suficiente para não usar aquela saia curta que mô não gosta.

Um dia você acorda, com ressaca, e a Bela Adormecida fez um textão sobre o príncipe no face, que está atualmente preso enquadrado no novo Código Penal, em seu Artigo 213 que prevê de 6 a 10 anos de reclusão em caso de beijo forçado ou roubado. Incluindo o Carnaval.

Então, não vamos dar a César o que é de Ana, as mulheres chegaram derrubando a porta e mudando o cardápio do dia com tanta coragem e competência que nem deu tempo de eu colocar os óculos para ler as opções.

A vida ainda é injusta, sejamos sinceras, se fosse justa as mulheres receberiam um zap mensal com “olar, você não está grávida, tenha um bom dia” no lugar de uma menstruação. Nem seremos iguais aos homens porque eles tem aquele jeitinho todo especial de fazer merda que nunca entenderemos.

Mas, os direitos e os deveres estão juntos subindo a escada do amadurecimento social. Queira você ou não.

Por falar em deveres, olha só, do pouco que tenho aprendido sobre o feminismo, direitos iguais vem com deveres iguais, viu?. Então pra a gente conseguir colocar em prática a sororidade (palavra tão difícil de dizer quanto de viver) as colegas tem que ajudar. Porque ser moderna e mostrar os peitos para dizer que é livre mas não querer dividir a conta porque pagar é coisa de homem, é o mesmo que pedir um big mac com coca light para não engordar.

Vamos todas, juntas, colocar as atitudes machistas em um spam mental e resetar nosso hd entoando o mantra “talvez vovô estivesse errado”.

Desculpe se não te represento. Mas, às vezes, nem eu mesmo me represento.

Sou a feminista que consigo ser.

Mas, no meu self, além da ego trip, dá pra ver a vontade de ser melhor e aprender. Sempre.