28 de dezembro de 2014
De olhos bem fechados.
Renata, mais velha, logo, mais sensata, ia na frente. No bagageiro, eu. Ela tinha quase 10 anos por isso era tão inteligente e, seguindo a hierarquia da maturidade, a ideia veio dela: e se a gente fechar os olhos?
Era perfeito.
As placas “vai dar merda” e “que ideia tosca dukaralho” nem passaram pela minha cabeça. O plano era simplesmente genial: ela, de olhos fechados, eu, de olhos fechados e uma bicicleta sem rumo e sem direção. Iríamos até o fim do mundo assim, sentindo os cabelos ao vento enquanto a #euQueroMinhaCaloi verde com cestinha prateada, cruzava o infinito. Ou pelo menos, o pilotis do prédio.
A quina de um canteiro de concreto com rosas vermelhas se encontrou, em câmera lenta, posso jurar, com meu joelho. Não fosse isso, iríamos pedalar até Nárnia ou até o Shopping, o que chegasse primeiro. Mas sangue, osso aparecendo e um corte de um lado ao outro do meu joelho, nos fizeram desistir da jornada.
Uma cicatriz, a única cicatriz, está aqui para provar a veracidade do acontecimento. Desde então, nunca mais fechei os olhos. Nem no gato mia. Moral da história: fui uma criança pomba-lesa e levei uma vidinha com 0% de perigo trans. Que barra.
Ontem, no meu aniversário de 41 anos, fechei os olhos para apagar as velas e desejei: mais cicatrizes com mais histórias incríveis e memoráveis.
Obrigada Renata (amiga, madrinha de Victor, cumadre) por me ensinar a fechar os olhos e me divertir. Demorei a entender, eu sei.
Obrigada Rodrigo, porque se eu fechar os olhos e cair, sei que você vai me segurar e ajudar a levantar!
Obrigada mãe e pai, por me ensinarem onde, com quem o quando fechar os olhos.
Fotos – Rodrigo Lôbo