De olhos bem fechados.

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Renata, mais velha, logo, mais sensata, ia na frente. No bagageiro, eu. Ela tinha quase 10 anos por isso era tão inteligente e, seguindo a hierarquia da maturidade, a ideia veio dela: e se a gente fechar os olhos?

Era perfeito.

As placas “vai dar merda” e “que ideia tosca dukaralho” nem passaram pela minha cabeça. O plano era simplesmente genial: ela, de olhos fechados, eu, de olhos fechados e uma bicicleta sem rumo e sem direção. Iríamos até o fim do mundo assim, sentindo os cabelos ao vento enquanto a #euQueroMinhaCaloi verde com cestinha prateada, cruzava o infinito. Ou pelo menos, o pilotis do prédio.

A quina de um canteiro de concreto com rosas vermelhas se encontrou, em câmera lenta, posso jurar, com meu joelho. Não fosse isso, iríamos pedalar até Nárnia ou até o Shopping, o que chegasse primeiro. Mas sangue, osso aparecendo e um corte de um lado ao outro do meu joelho, nos fizeram desistir da jornada.

Uma cicatriz, a única cicatriz, está aqui para provar a veracidade do acontecimento. Desde então, nunca mais fechei os olhos. Nem no gato mia. Moral da história: fui uma criança pomba-lesa e levei uma vidinha com 0% de perigo trans. Que barra.

Ontem, no meu aniversário de 41 anos, fechei os olhos para apagar as velas e desejei: mais cicatrizes com mais histórias incríveis e memoráveis.

Obrigada Renata (amiga, madrinha de Victor, cumadre) por me ensinar a fechar os olhos e me divertir. Demorei a entender, eu sei.

Obrigada Rodrigo, porque  se eu fechar os olhos e cair, sei que você vai me segurar e ajudar a levantar!

Obrigada mãe e pai, por me ensinarem onde, com quem o quando fechar os olhos.

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Fotos – Rodrigo Lôbo