The Dark Side of The Moon (e da Vida).

Tem esse lado da Lua que ninguém nunca vê.

Nunca.

Lá, no escurinho do cinema, posso apostar que é onde estrelas nascem e planetas ficam grávidos. É no lado escuro da lua, no breu do mundo, sem olhos humanos escondidos por trás de telescópios, que o vento faz a curva com pavor da escuridão. Do mesmo jeito que tava indo, dá ré, faz uma volta danada e muda de direção com um medo da peste. Volta, tremendo e assobiando, que é pra espantar a eterna noite. É por isso que às vezes venta tanto, é ele, o vento em pessoa, correndo pra ir buscar o sol. Se achar um cometa no meio do caminho, já se dá por satisfeito.

As mulheres do Passarinho, comunidade na zona oeste do Recife, conhecem o outro lado da Lua. Moram, poucos cientistas sabem, no dark side of the moon. Lá, ao contrário da musica de Pink Floyd, tem pouquíssimo glamour. Num dos bairros mais pobres da cidade, as mulheres é que fazem a curva com pavor da escuridão. Do mesmo jeito que estavam indo pra casa cuidar dos filhos, dão ré, fazem uma volta danada e mudam de direção com um medo da peste. Voltam tremendo e assobiando, para espantar o escuro e a insegurança da região. Para elas nem precisa levar o sol, basta a Prefeitura colocar uma luz no poste e já se dão por satisfeitas.

Ao contrário do vento, as mulheres não vão embora do Passarinho. Ficam, no breu mesmo, e assim como na procissão das almas, saem a noite, carregando velas que iluminam, não só as ruas, mas suas esperanças.

Ali, no escuro da periferia esquecida, elas são a luz no fim do túnel do descaso político.

Lá, no Passarinho, falta luz. Mas o que falta mesmo, é vergonha na cara de quem poderia colocar a luz.

*Fotos de Rodrigo feitas durante o ato que fez parte da campanha Cidades Seguras para as Mulheres,  da organização internacional de combate à pobreza ActionAid

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