A volta de Nárnia.

Acabamos de voltar de Nárnia. Da Terra do Nunca. Do carrinho da montanha russa que saiu, enfim, da Caverna do Dragão.

Se havia meninos, não os achamos mais por aqui. Foram-se todos. Restaram os homens.

Foi ali, bem no meio de uma manhã ensolarada de quarta-feira, que a vida disse: “suas ideias não correspondem aos fatos”.

Ah, os fatos.

Quatro dias e três velórios depois, só sobrou uma urgência: a de amar. A urgência de viver e de ligar no meio de uma tarde de segunda-feira para dizer “estou com saudade”.

Agora, com esse sorriso de funcionária do mês, anunciamos a volta das atividades normais: pagar, dirigir, abrir, fechar, decidir, atender. E seguir. Só seguir.

- Continue a nadar, continue a nadar (sobe som Dory, Procurando Nemo)

A pausa na nossa programação é para deixar um beijo para os meninos de ontem, que acordaram adultos hoje:  Kaká, Daniel ,  Risoto,  Lôbo, Beto Figueiroa,  Pons, Rafa , Fê, Gil,  Pia, Betinho, Chokito, Godoy, Curumim, Tatá, Henrique, Schumi, Bergman, Tomahawk, Paiva, Titico, Pedro, Tom, Black, Jorginho, Chuck (sobre apelidos estranhos, trataremos em outro texto).

E antes que vocês se perguntem, “existirmos, a que será que se destina?”, comunico que não trabalhamos no departamento de adeus, mas de até breve. Muito breve.

Percol, meu filho.

Percol não era meu filho, mas de tanto Kaká, meu irmão caçula, dizer ao telefone:

“- Percol, meu filho, cadê você? A farra é onde hoje?”, desde os tempos de colégio, que meu filho de verdade, Victor, na época muito pequeno, deu para achar que “meu filho” era o sobrenome de Percol.

A confusão ainda era maior porque Percol nem era mesmo o nome de Percol. Carlos Augusto, nome bonito e pomposo, é o que está na certidão de nascimento, mas de tanto usar uma calça jeans da marca percol, foi logo rebatizado. Virou Percol e não se fala mais nisso.

O primeiro peixinho dourado de Victor, “pescado” na feirinha de animais da piscina climatizada do shopping, ganhou o nome de Percol, meu filho. Porque peixe também tem direito a sobrenome, tá pensando o que?

Kaká e Percol seguiram amigos do colégio para faculdade de jornalismo e de lá para os respectivos empregos. Um como assessor de imprensa do Prefeito do Recife, Geraldo Júlio, o outro como assessor do então Governador Eduardo Campos. Certo, confesso, foi com uma forcinha, um empurrãozinho, quase um solavanco, que Percol, meu filho, conseguiu finalmente tirar Kaká da redação do jornal para entrar no mundo da política.

Percol, meu filho, o peixinho dourado de Victor, morreu logo. Não agüentou as batidas no aquário nem o esquecimento do menino, que nunca lembrava, vejam só, de dar comida.

Percol, meu filho, amigo de infância de Kaká, foi embora hoje. Partiu, junto com Eduardo Campos e mais dois grandes amigos jornalistas, Alexandre Severo e Marcelo Lyra, na inexplicável tragédia que caiu hoje sobre o Recife.

Acordamos com a notícia improvável, o avião do presidenciável caiu. O presidenciável é como vocês, do resto do Brasil, chamam. A gente chama de Dudu mesmo. Um político que saiu da sombra do avô famoso, o véi Arrais, para ganhar o respeito de um Estado inteiro.

Hoje, independente de partidos políticos ou ideologia, Pernambuco lamenta a partida de Eduardo Campos. Aqui em casa, choramos todas as lágrimas da saudade em nome do menino da calça percol que já foi peixe e agora virou passarinho e foi para o céu.

Vai em paz, Percol.