Dia da Mulher

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Rogai por nós, mulheres de boa vontade e pouco juízo. Mulheres que, como eu, acreditam mais nos abraços do que em Deus, mais no amor do que nas Igrejas. Perdoai minha falta de fé, neste dia cinza e de palavras duras, perdoai, principalmente, minha descrença nas pessoas. Rogai por nós, mulheres fracas mas que anunciam, entre frases de efeitos e fotos sorridentes, uma fortaleza que só existe em anúncios publicitários. Perdoai minha fraqueza de espírito, Maria cheia de graça. Somos fracas e queremos colo e beijos e flores. Não somos mulheres maravilha, não queremos três expedientes, nem queimar sutiens. Queremos, ao contrário, sutiens mais confortáveis e, de preferência, mais baratos.

A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de vaidades e futilidades. Que vossos olhos misericordiosos não vejam nossas loucuras e medos e frustrações e quedas e perdas. Ah, e quantas perdas.

A vós bradamos, as segregadas filhas de Eva, perdidas entre ideais de beleza e regimes milagrosos.

E sofremos e lamentamos e choramos, sim, choramos pra karalho,mas enxugamos as lágrimas antes do selfie.

Rogai por nós, mulheres que sofrem em silêncio mas fazem biquinhos nas redes sociais. Rogais por nós, mulheres com tantos seguidores  no instagram mas que estão, na verdade, sós.

Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadoras da ira, da gula, da inveja e do orgulho, esses pecados tão nossos e tão escondidos por debaixo da timeline.

Ó Virgem imaculada, rogai por nós para que no fim do dia sejamos dignas do amor, não o eterno, mas o do próximo. Para que nossos corações sejam correspondidos, senão para todo o sempre, mas eterno enquanto dure.

Feliz dia da mulher normal.

*A ilustração fiz ontem de noite. Misturei tintas, vinho e Frontal. Resultado: muita cor e pouco foco. Assim como a vida!

 

 

Status: em um relacionamento sério com o Carnaval.

Começou tão cedo que posso jurar que tinha Globeleza sambando na cara dos intelectuais antes até do jingle bells. Nem mesmo os panetones saíram da mesa e Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon, invadiram, com seus blocos saudosos, a rotina líquida e endividada dos recifenses.

Ah, o Carnaval, este senhor com mais vícios que virtudes que passeia sorrateiro pelos corações em chamas. Ele, seu niilismo blasé e nossa carência histórica, de mãos dadas, no bloco Quem vê Carnaval, não vê Coração.

Planejava passar meus dias de momo com pijamas, no lugar de fantasias, trocar as troças por livros e purpurinas por filmes de David Lynch, mas eis que o Galo subiu no poleiro e ouvi o som dos clarins de momo que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé. É a embriaguez do frevo que transforma o ponto final em vírgula e tudo o que vez depois em reticências.

E assim como o eterno retorno de Nietzsche, veremos a repetição dos clássicos da folia: o Cravo vai brigar com a Rosa só para passar o Carnaval solteiro e o repórter da televisão vai falar da “irreverência do folião pernambucano” como se a frase, necessariamente, precisasse ser oposta, em progressão geométrica, `a originalidade da fantasia.  Veremos plumas, paetês, máscaras de políticos, bonecos gigantes, assim como gente de abadá que, por descuido ou ironia, perdeu o vôo para Salvador.

Depois, cansados de sol, suor e cerveja, nos contentaremos com aqueles dias chatos entre a quarta-feira de cinzas e o ano novo. É de fazer chorar.

Recife e a peleja do sol contra a chuva.

recifeChuvaSol

De um lado do ringue, pesando 1,9891 x 1030 e se sentindo o centro do universo: o Sol. Trajando roupa vermelho-alaranjada e com complexo de superioridade, a estrela maior do sistema solar entra na briga com fogo nos olhos. Mal sabe ele, em sua ego-lombra estelar, que nos causa manchas na pele, câncer e a seca do Nordeste (que agora a gente, de tão bonzinho, emprestou para São Paulo).

Lá de cima, brilhando mais que o rosto de uma recifense às 11 da manhã na Conde da Boa Vista, o Sol, ilumina a Terra de canto a canto. A menos, claro, que você more na Groelândia (nesse caso, vai estar aquecendo suas mãos na lareira do iglu, e não lendo blogs de moda). E ele, todo poderoso, quente e com a auto-estima super-aquecida, espalhou pelas redes sociais e cartões postais da Via Láctea que, no Nordeste, é sol de Janeiro a Janeiro. Como explicar que, desde Julho, está esse puxa-encolhe da chuva? Um marketing pessoal mal feito, diriam os analistas das redes sociais. Além de esfriar a cabeça, o sol precisa mesmo é de um bom assessor de imprensa para gerenciar essa crise solar.

O fato é que, chegando de mansinho e correndo da raia logo que a situação esquenta, ela, a arqui-inimiga solar, a chuva, também está pronta para o embate celeste. Pesando 0,03 gramas por gota e usando a capa da invisibilidade de Harry Potter, a chuva vem desconstruindo todo o trabalho de auto-promoção publicitária feita pelo sol há 4,6 bilhões de anos. É só ele, o sol, dar uma bobeira, sair para fumar um cigarro ou perder o foco navegando no facebook, que pronto, nuvens com pancadas de chuva aleatórias dominam o céu da Veneza Brasileira.  Uma desavença milenar: o fogo contra a água, neste confronto que deixa as donas de casa aflitas com as roupas no varal.

Se cada um respeitasse seu espaço, chuva no inverno e sol no verão, a vida seria mais mansa e o clima mais ameno. Mas, cada um de um lado, como Caim e Abel, nascidos do mesmo pai, o universo, só querem mesmo sentar na janela da galáxia enquanto gritam “ eu pedi primeiro”.  Sofremos nós, recifenses, que levam a sombrinha na bolsa num dia que faz um sol triste e saem de havaianas quando chove e alaga tudo.

Vamos tirar no par ou ímpar aê, galera?

*A foto e o título são de Rodrigo Lobo. Só pequei carona no comentário que Tavinho, meu cunhado, fez no face dizendo “esse título merece um texto”. Pronto, comprei a briga, escrevi o texto e, de quebra, tirei as roupas do varal. Vai que…..

Desculpa, mas….

Mas, sou canhota e tenho problemas de orientação e espaço. Quando você diz dobre a direita, onde é mesmo que você quer que eu dobre?

Mas, eu avisei que não era boa na cozinha. Melhor jogar essa merda fora e fritar um ovo.

Mas, não, não lembro de onde eu te conheço.

Mas, não gosto de aventuras, nem alturas, nem movimentos bruscos. Deve ser a labirintite ou frescurite. Não vou pular ali, nem mergulhar aqui, muito menos mergulhar enquanto pulo.

Mas, sou vaidosa e às vezes coloco batom só para tirar uma foto.

Mas sou mal humorada pela manhã, insuportável na TPM e séria concorrente a camisa de força durante a menstruação. A placa “Perigo, cão anti-social”, pode ser usada em casos onde não há, necessariamente, um cão

Mas, não sei usar  crase.

Mas, sou do tipo que gosta de ar. Oxigênio, em abundância e sem restrições. Falta de ar me deixa com falta de ar. Se você se engasgar na minha frente, não repare se eu chorar. Acho que é porque sou a filha mais velha.

Mas, às vezes eu olho o instagram, mesmo sabendo que no elevador não tem sinal de internet, só para não ter que conversar sobre  o calor e a umidade relativa do ar.

Mas, eu poderia cultivar bonsais ou fazer mosaicos, no lugar disso, uso o blog como terapia.

Mas, de tempos em tempos, tomo Dramin para dormir. Poderia tomar chá de camomila, fumar maconha, contar carneirinhos e vaquinhas e bodes e unicórnios. Mas tomo Dramin mesmo.

Desculpa, mas com tantas desculpas eu me perdi de mim. E nem sei mais se a falta de crase é culpa da labirintite ou minha tontura é o que aumenta a umidade relativa do ar. Se tivesse um cão, talvez eu não tomasse Dramin e fosse capaz de lembrar do seu nome. Engasgo por ser a filha mais velha e, é provável, que o  mau humor cause a falta de sinal de internet no elevador. Se confundo direita e esquerda, é tão somente, por conta dos movimentos bruscos dessa vida com muito oxigênio e pouco ovo frito.

Uuuuuuuuuuuu!

Se tivéssemos nos encontrado no elevador, em um dia qualquer, eu, acompanhada de três crianças, ela, a senhora elegante de cabelos brancos arroxeados, teríamos trocado um boa tarde e possivelmente esboçado um dialogo sobre como essa umidade do Recife não é boa para maquiagem.  Se houvéssemos nos esbarrado num ônibus, apesar de achar improvável ela andar de ônibus, teria cedido meu lugar. Se o embate fosse numa fila de banco, haveria pensado secretamente “lá vem outra preferencial, me lasquei, vou me atrasar pro médico”.

Mas nosso primeiro e derradeiro encontro se deu, não num dia qualquer, mas em um domingo de eleição. Ela, do cordão azul, vestida a caráter e sentada na varanda do restaurante. Eu, do time encarnado, andando pela calçada, carregando as já mencionadas três crianças. Não teria percebido a elegante  (sobre elegância discutiremos mais profundamente nos próximos parágrafos)  senhora de cabelo branco arroxeado, não fosse pela vaia. Sim, eu disse vaia.

Quase não entendi, pela falta de costume de ouvir um Uuuuuuu, porque, né, a última vez que fui vaiada foi na final de volley da sexta A contra a sexta B, quando eu perdi o saque que poderia salvar o time da derrota nas olimpíadas escolares. Perdemos, mas não sem antes a turma ser repreendida pelo treinador porque o que vale nessa vida é competir, dizem. A senhora de cabelo arroxeado, não mais tão elegante assim, parece não concordar e estava em pé me vaiando.

Edu não entendeu, Luca franziu a testa e Maria disse “você está louca, querida”.

É isso, vai que ela é a louca da vaia! Deve ter vaiado a enfermeira que ajudou no banho ontem e vaiou o homem da macaxeira, só porque ele passou do lado errado da calçada. Acho que vaiou o porteiro que disse bom dia quando, na real, já era boa tarde e vaia Faustão sempre que ele diz “ô louco, meu”.

Mas a verdade é que, uuuuuuuuuuu, todas as pessoas do restaurante, pelo menos todas as que estavam de azul, vaiaram junto com ela. Aí incluídas as duas netas da, cada parágrafo menos elegante senhora, que a partir daquele domingo aprenderam que é correto vaiar quando não se concorda com alguém. Para fins de contextualização, e não de vitimização, nosso crime foi passar pela calçada usando a cor errada.

Opções de reação:

A – Téta Barbosa saiu da conversa, se fosse no facebook.

B – “ Vai ficar frescando, é?” , com a mão devidamente colocada na cintura e o olhar meigo da noiva de Chuck.

Mas a cena perdeu o potencial cômico quando a senhorinha disse, com sua voz cheia de ternura: “ bando de comunista que só espalha merda”.

Atravessei a rua, me sentindo a emparedada da 17 de Agosto, num fim de tarde ameno com sensação térmica de #CalaBocaGalvão.

E essa foi a pior derrota que me ocorreu, desde a batalha contra a sexta A. Foi ali que percebi que perdemos para o pior adversário, desde a Alemanha: nós mesmos. Brasil contra brasileiros em uma disputa desonesta e vergonhosa.  Depois que, enfim, o Acre teve seus 15 minutos de fama e ficamos sabendo o resultado das eleições, me deparei com duas perguntas:

1 – O Acre ainda existe?

2 – O que comemorar em um país onde sua opinião não é respeitada, a Veja enlouqueceu, Collor foi eleito, Bolsonaro reeleito e vovozinhas de cabelo roxo sobem na mesa pra  vaiar?

#VaiTerDilma, e se vaiar, vai ter duas!