Living la vida loca.

Teve esse dia que eu resolvi morar no banheiro.

Fora as vantagens óbvias – lá não tem prato para lavar, é relativamente silencioso, não tem emails esperando respostas e não tem fogão, portanto, você não é perseguida pela pergunta “qual vai ser o almoço hoje?” – ainda tem a vantagem de ser quentinho, escuro e úmido, como o útero da sua mãe.

Comecei a mudança aos poucos. Primeiro levei os livros, uns desenhos e um par de meias (o chão é frio). Dispensei, da mala, o material de limpeza pessoal, pelo compreensível argumento de que é justamente no banheiro que moram a escova de dente, os hidratantes  e sabonetes. Outra vantagem da minha nova moradia, lá é lugar de gente limpinha e cheirosa.

Portanto, quando me procuram e não me acham (nunca me acham), é porque estou no banheiro. Às vezes sentada no chão lendo, às vezes cortando as unhas, colocando tampa perdida em pasta de dente carente, organizando a farmacinha com os remédios por ordem de validade e, às vezes, simplesmente, me olhando no espelho e tentando entender porque um lado do meu cabelo cresce mais que o outro. É importante realizar todas as tarefas do banheiro de forma aleatória, porque lá não tem relógio. Já repararam nisso? No banheiro n-ã-o-t-e-m-r-e-l-ó-g-i-o. Cinco minutos ou uma hora passam no mesmo intervalo de tempo como, se ali, fosse o laboratório particular da teoria da relatividade. Logo, uma metodologia de ações iria estragar o espírito  livre “prenda-me se for capaz” do banheiro.

O fato é que, dia desses, eu estava no meu banheiro arrumando a caixinha dos esmaltes, sentada no chão e ouvindo Metallica quando tive uma ideia, que na hora me pareceu sensacional, mas agora só parece tosca mesmo: pintar, não as unhas, mas a porta da farmacinha com os esmaltes vencidos.  Como se não fosse “você tá louca, querida” o bastante,  invadi a nécessaire de maquiagem atrás de lápis de olho e delineador. Este último, que nunca conseguiu, na vida, traçar sequer  uma linha decente na pálpebra do meu olho, agora serviria para um bem maior, a arte.

Talvez arte não seja propriamente a palavra, vai mais pelo lado “delusional disorder” daquele momento, mas o assunto não é este, é aquele.  É a ideia de que, esmaltes vencidos podem, numa manhã nublada de segunda feira, mudar a vida de uma pessoa, ou da farmacinha do banheiro.

Tirei foto do desenho feito com essa inovadora técnica; esmalte, lápis de olho e delineador sobre porta, para provar que “tá uma merda, mas é meu” e finalizar com a certeza de que  ninguém vai botar um ponto final na minha vírgula, porque o banheiro é meu e eu moro lá se eu quiser. Que, na real, é só uma metáfora para dizer: vou dormir mais cedo e não vou responder mais email nenhum. Almoço de amanhã? Ouvi falar de miojo. Dizem que é um sucesso.

*Uma fábula moderna sobre os perigos de diminuir os dias da diarista. Ou, “Help, I slave” na versão classe média.

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